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Exigências da NATO Provocam Dores de Cabeça na Islândia

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Por Lowana Veal

REYKJAVÍK (IDN) – Em fevereiro de 2016, o governo dos EUA iniciou discussões com o seu homólogo islandês sobre a possibilidade de levar a cabo as mudanças necessárias para as portas do hangar da NATO no aeroporto de Keflavík para que os mais recentes e maiores aviões de reconhecimento de submarinos pudessem ser alojados lá. O assunto foi eventualmente concluído em dezembro de 2017, quando o governo dos EUA concordou no financiamento.

O hangar fica localizado na zona de segurança da antiga base militar dos EUA, “Naval Air Station Keflavik” (Estação Aérea Naval de Keflavík), e os aviões de reconhecimento em questão são do tipo P-8A Poseidon, concebidos para rastrear a crescente presença dos submarinos nucleares e convencionais russos nas águas em torno da Islândia – o assim chamado – (GIUK) Gap (Gronelândia, Islândia e Reino Unido).

Há agora mais submarinos nucleares e convencionais no GIUK Gap do que durante a Guerra Fria. De acordo com o Ministro dos Negócios Estrangeiros islandês, os voos de vigilância foram realizados a partir da Islândia em 77 dias durante o ano de 2016, ao passo que, em 2017, esses voos foram realizados em 153 dias, usando os aviões de vigilância P-3 e P-8A operados pelos Estados Unidos e outros estados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). O P-3 é o antecessor do P-8A.

“Foi assumido desde o início que as alterações seriam financiadas pelo governo dos EUA,” afirmou um assessor de imprensa do ministério dos Negócios Estrangeiros. No Orçamento para a Defesa de 2018 dos Estados Unidos, foram pedidos e atribuídos 14,4 milhões de dólares para “melhorias em aeródromos” na Islândia, ao abrigo da Secção 4602, Construção Militar para Operações de Contingência no Exterior, e Secção 2903, Projeto de Construção e Aquisição de Tereno para a Força Aérea. O segundo permite que o Secretário da Força Aérea adquira “bens imobiliários” e realize projetos de construção militar para instalações fora dos Estados Unidos.

No entanto, as despesas também aumentaram do lado islandês. Num relatório intitulado Iceland’s Defence and NATO Operations in Iceland (Operações de Defesa da Islândia e da NATO na Islândia), datado de 8 de março de 2017, a Guarda Costeira Islandesa reporta “um aumento das operações marítimas e recursos”, enquanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma que o financiamento operacional foi aumentado em 34 por cento no orçamento islandês de 2017 “devido a operações de estruturas e um sistema de defesa aéreo no aeroporto de Keflavík”.

O assunto tem sido polémico, em parte porque os militares dos EUA deixaram a Islândia em setembro de 2016 e há receios de que eles possam estar a ponderar um regresso. Ainda que grande parte da base abandonada esteja agora a ser usada para fins educativos e de alta tecnologia, parte da base continua ainda fechada ao público. Aqui, a Guarda Costeira é responsável por manter os hangares e outras instalações militares intactas, ao mesmo tempo que também pela vigilância do controlo do tráfego aéreo sobre a Islândia, tanto de aviões civis como militares.

Em julho de 2016, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) publicou um relatório no qual sugeriu abertamente: “A NATO pode otimizar a sua postura ASW [guerra antissubmarina] para garantir que as capacidades certas estejam nos lugares certos no momento certo reabrindo a Estação Aérea Naval de Keflavík na Islândia…”

Após as eleições parlamentares em outubro de 2017, Katrin Jakobsdottir tornou-se Primeira-ministra. Alegadamente o político mais fiável na Islândia no momento, ela é líder do Movimento de Esquerda Verde, o segundo maior partido no Althingi [Parlamento da Islândia], que sempre teve no seu manifesto a retirada da NATO da Islândia embora a questão mal fosse mencionada no período que precedeu as eleições.

No entanto, a sua política não é partilhada pelos outros dois partidos da coligação, O Partido Progressivo centrista e o Partido Independente da ala direita, que ocupa a maioria dos assentos nos 63 membros do Althingi.

Contudo, no início de dezembro de 2017, pouco depois de se tornar Primeira-ministra, perguntou ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Gudlaugur Thor Thordarson, o que estava exatamente envolvido na renovação do hangar e reiterou a oposição do Movimento de Esquerda Verde a uma presença militar na Islândia. Foi-lhe respondido que não havia intenção alguma de voltar a estabelecer uma base militar da NATO na Islândia.

No início de 2017, Steinunn Thora Arnadottir, do Movimento de Esquerda Verde, perguntou ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Thordarson, se a Islândia iria participar nas discussões conducentes ao Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (TPNW). Thordarson explicou que, como membro da NATO, decidira boicotar as negociações porque a “Islândia considerava necessário que os estados nucleares participassem no processo de desarmamento e que era claro que este não iria ser o caso.”

Quando os elementos do Movimento de Esquerda Verde fizeram parte da Oposição no ano passado, Jakobsdottir foi um dos dezassete políticos islandeses que assinou o Compromisso Parlamentar do ICAN depois do TPNW ter sido adotado pelas Nações Unidas, em julho de 2017. A maioria dos signatários pertencia aos partidos Movimento de Esquerda Verde e Pirata.

No regresso da receção do Prémio Nobel da Paz em Oslo em dezembro de 2017, Ray Acheson do Reaching Critical Will/WILPF e Tim Wright do ICAN Austrália visitaram a Islândia. “Katrin [Jakobsdottir] veio à conversa pública que eu e o Tim nos demos na universidade e que também nos encontrámos com o resto dos do Movimento de Esquerda Verde bem como com os do Partido Pirata, o ministério dos negócios estrangeiros e o presidente da câmara de Reykjavík,” disse Acheson.

Acheson está positiva em relação à Islândia no que respeita ao novo Tratado, afirmando “existe sempre a esperança de que qualquer governo democrático adira ao tratado de proibição nuclear, visto que esses governos estão sujeitos à vontade dos seus povos. Mas nós pensamos que, com Katrín Jakobsdóttir como primeira-ministra, a Islândia está numa posição sólida para aderir ao tratado e levar outros países da NATO a apoiarem passos reais no sentido do desarmamento nuclear.”

Ela acredita que “enquanto Katrín e outros no governo que apoiam o tratado de proibição enfrentarem a oposição de outros colegas, vai ser importante para a Islândia reclamar a sua posição como um país que se opõe às armas nucleares, não um país que se esconde atrás da posição da NATO ou dos Estados Unidos e permite que o massacre indiscriminado de civis seja ameaçado em seu nome.”

Acheson refere em seguida que “o novo governo, com as suas posições de princípio sobre as questões do humanitarismo e desarmamento, deve tornar claro que a Islândia não aceita que as armas nucleares sejam armas legais ou aceitáveis para alguém ter ou usar.”

Tim Wright está otimista. “É inevitável que a Islândia vá assinar e ratificar o tratado. Seria irresponsável não o fazer. Katrin Jakobsdottir prometeu o seu apoio e estou confiante de que os outros membros do seu governo farão o mesmo. As armas nucleares não servem de modo nenhum um propósito legítimo. A Islândia deve ser inequívoca na sua posição em relação a elas,” salientou.

“Como uma nação sem militares, a Islândia tem uma história orgulhosa de apoio aos esforços de paz. Deverá ser um dos principais esforços a nível global para a eliminação das piores armas de destruição em massa, não marcar passo.” [IDN-InDepthNews – 15 de janeiro de 2018]

Foto: Poseidon P-8A Marinha dos EUA em Keflavík. 8 de novembro de 2017. Crédito: b737.org.uk

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