Jovens À Frente Pela Proibição das Armas Nucleares
Por J Nastranis
NOVA IORQUE (IDN) – António Guterres, Secretário-Geral da ONU, na sua Agenda para o Desarmamento a 24 de maio de 2018, sublinhou a necessidade de estabelecer uma plataforma para a participação dos jovens. Isto incluiria “um grupo de jovens de todo o mundo,” que trabalhará assiduamente para promover o desarmamento, a não-proliferação e o controlo de armas nas suas comunidades.
O envolvimento com grupos de jovens e organizações comunitárias em apoio à implementação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável com ligações sinergéticas aos jovens, educação para o desarmamento e não-proliferação e prevenção de conflitos é o segundo pilar da plataforma para a participação dos jovens.
O terceiro pilar são os módulos de formação do desarmamento e a não-proliferação alojados no painel online do gabinete de Viena do Escritório das Nações Unidas para os Assuntos de Desarmamento (UNODA) dirigidos aos jovens diplomatas e outros líderes da juventude para a valorização do conhecimento e o fortalecimento de capacidades.
A 24 de setembro de 2018, o Secretário-Geral lançou Youth 2030: The United Nations Youth Strategy (Juventude 2030: A Estratégia da Juventude das Nações Unidas) acentuando que os jovens são os “agentes da mudança” e que a geração jovem é a “força definitiva para a mudança” e propondo ações para promover a participação dos jovens.
O Secretário-Geral incumbiu o seu Enviado para a Juventude, em cooperação com o sistema das Nações Unidas e os próprios jovens, de liderarem o desenvolvimento de uma Estratégia da Juventude das Nações Unidas. O seu objetivo; intensificar as ações a nível global, regional e nacional para satisfazer as necessidades dos jovens, perceber os seus direitos e aproveitar as suas possibilidades como agentes da mudança.
A 12 de dezembro de 2019 a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou por consenso uma resolução sobre a Youth, disarmament and non-proliferation (Juventude, desarmamento e a não-proliferação). A resolução foi apresentada pela República da Coreia e copatrocinada por mais 42 governos, incluindo uma combinação de países com armas nucleares, aliados e não nucleares.
A resolução pede aos governos, agências da ONU e à sociedade civil para educarem, envolverem e capacitarem os jovens nos campos do desarmamento e da não-proliferação. Como tal, visa dinamizar as organizações não-governamentais para o desenvolvimento de programas focados e liderados pela juventude em colaboração com as Nações Unidas e com o apoio dos governos.
A plataforma para a participação dos jovens e vários programas lançados pelo Secretário-Geral refletiram a profunda preocupação dos jovens em relação às ameaças existenciais colocadas não apenas pelo aquecimento global, mas também pelas armas nucleares, que são as armas mais desumanas e indiscriminadas alguma vez criadas. Elas violam o direito internacional, causam graves danos ambientais, comprometem a segurança nacional e global e desviam amplos recursos públicos da satisfação das necessidades humanas.
Como enfatiza a laureada com o Prémio Nobel da Paz de 2017, a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN), uma única ogiva nuclear pode matar centenas de milhar de pessoas, com consequências humanitárias e ambientais duradouras e devastadoras. A Rússia, Estados Unidos, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte possuem um total estimado de quase 14 000 armas nucleares, muitas das quais são muitas vezes mais poderosas do que a arma nuclear lançada em Hiroshima. Trinta e um outros estados fazem também parte do problema.
Os jovens desempenham um papel essencial nas atividades da ICAN, uma coligação de organizações não-governamentais que promove a adesão e implementação do tratado de proibição das armas nucleares das Nações Unidas.
A 7 de julho de 2017, uma esmagadora maioria das nações do mundo adotou um acordo histórico global para a proibição das armas nucleares, conhecido oficialmente como o Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares (TPNW). Este entrará legalmente em vigor assim que as 50 nações o tiverem assinado e ratificado. Entretanto, 34 nações já ratificaram o Tratado.
Tratados existentes envolvidos nas Zonas Livres de Armas Nucleares na América Latina e no Caribe (Tratado de Tlatelolco), Pacífico Sul (Tratado de Rarotonga), Sudeste Asiático (Tratado de Banguecoque), África (Tratado de Pelindaba) e Ásia Central bem como a Mongólia estão a contribuir com a sua parte para um mundo livre de armas nucleares.
Mas o estabelecimento de uma Zona Livre de Armas Nucleares e Outras Armas de Destruição Maciça no Oriente Médio tem iludido a comunidade internacional. A Conferência sobre o Estabelecimento de uma Zona do Oriente Médio Livre de Armas Nucleares e Outras Armas de Destruição Maciça realizou a sua Primeira Sessão entre 18-22 de novembro de 2019 na Sede das Nações Unidas em Nova Iorque, sob a presidência do Embaixador Sima Bahous da Jordânia. A Conferência adotou uma Declaração Política e o seu Relatório Final.
Com o apoio do Escritório das Nações Unidas para os Assuntos de Desarmamento (UNODA), a Missão Permanente do Cazaquistão para a ONU realizou, a 9 de dezembro, uma sessão do Fórum de Discussão Nuclear sobre os resultados da Primeira Sessão.
A Segunda Sessão da Conferência está agendada para ter lugar entre 16-20 de novembro de 2020, na Sede das Nações Unidas em Nova Iorque.
Além das ações oficiais na Sede da ONU em Nova Iorque, os jovens têm participado em várias atividades iniciadas por organizações não-governamentais reunidas na UNFOLD ZERO.
Durante a Semana do Desarmamento da ONU de 24-30 de outubro de 2019, uma equipa de voluntários (na maioria jovens) na Cidade de Nova Iorque contabilizou 542 biliões de dólares – o orçamento global aproximado de armas nucleares para os próximos cinco anos – e reatribuiu-o simbolicamente para a proteção climática, a diminuição da pobreza e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
A ação foi iniciada pelo World Future Council (Conselho para o Futuro do Mundo) e organizado pela Peace Accelerators, uma rede liderada por jovens ‘futuristas e empreendedores éticos’ a trabalharem para um futuro sustentável.
O dinheiro foi contabilizado em vários locais da cidade, incluindo nas Nações Unidas em colaboração com estudantes do movimento da Greve das Escolas para o Clima, em frente à Câmara Municipal da Cidade de Nova Iorque (NYC) para apoiar o desinvestimento dos fundos de pensões da Cidade de Nova Iorque da indústria de armas nucleares; no exterior do escritório da Jacobs Engineering, um empresário de armas nucleares; e no Strawberry Fields em homenagem ao pacifista John Lennon.
Jovens de todo o mundo que não puderam vir a Nova Iorque para o evento publicaram memes nas redes sociais em apoio.
O Basel Peace Office (Escritório da Paz de Basileia) e os Parliamentarians for Nuclear Non-proliferation and Disarmament (Parlamentares para a Não-proliferação e Desarmamento Nuclear) deram início a um novo projeto Youth voices on climate, peace and nuclear disarmament (vozes dos Jovens sobre o clima, a paz e o desarmamento nuclear), em colaboração com o Abolition 2000 Youth Network. O projeto inclui:
Clima, paz e segurança: Das vozes dos jovens à ação política , um evento de mesa-redonda em Basileia a 9 de janeiro de 2020, que reuniu legisladores e especialistas com os líderes europeus juvenis nos movimentos do clima, paz e desarmamento;
Projeto em Vídeo: vozes dos Jovens sobre o clima, a paz e o desarmamento , uma compilação de declarações de jovens em vídeo sobre o clima, a paz, segurança e desarmamento nuclear e o papel da União Europeia, Nações Unidas e Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE);
Prémio Peace and Climate action of European Youth (PACEY), um novo prémio no valor de 5000 € para apoiar um projeto ou proposta europeia dos jovens para a ação sobre o clima, a paz e o desarmamento nuclear. [IDN-InDepthNews – 28 de dezembro de 2019]
Fotografia: A segunda formação sobre a Prevenção de Conflitos através do Controlo de Armas, o Desarmamento e a Não-Proliferação organizada em conjunto pelo UNODA e a OSCE em maio de 2019 no Centro Internacional de Viena. Crédito: UNODA, Escritório de Viena.